quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Quando tempo e tédio se encontram

Música para acompanhar:

Lembrando a todos que, devido aos  nosso horário religioso, não teremos nosso episodio semanal de "A era dos divinos", assistam algumas cenas que Serão exibidas no próximo episódio:

* Uma fábrica é vista de cima calmamente e, do nada, surge uma explosão violenta com Lisa e Vivi fugindo do fogo com uma moto e sendo persiguidas por um shield aprimorado *

* Corte para a Biblioteca com Stiff, Lúcifer e Lucy conversando e Stiff diz *
Quero que esses dias fiquem conhecidos como as 72 horas de terror.

* A música acelera e começa uma sequencia de cenas aleatórias com explosões e pessoas brigando *

A ideia é nos dividirmos e fazer uma série de ataques usando poucas pessoas extremamente especializadas para dar muito dano. As equipes, os alvos, os objetivos e os horários do ataque serão decididos aleatoriamente.

* Corte com um close no Viktor, em avatar, berrando *

Quero que ela sofra muito.

* Corte para a Ágatha enfrentando a Zeus *

Sem saber por onde será atacada.

* Corte para uma cabeça de shield que é esmagada pelo cajado da Carmen  *

* Corte para uma base com Wallace e Cheng lado a lado e Wallace dizendo *
- Como nos velhos tempos.
* Um punho de aberrante acerta a barreira que os dois fizeram *

* Corte para uma cena Stiff falando com a Lucy *
Tenho uma nova proposta pra você.

* Corte para uma sela de interrogatório com Stiff sentado na frente da Tânia e uma mesa separando eles. Ele segura a mão dela e diz *
- Pretendo treinar você. Caso algo dê errado, vou usar essa máquina de pregos e ir furando você até dar certo.
* Ela olha assustada *
- E você sabe que isso só vai funcionar se eu realmente furar você.


*a música aumenta de ritmo *
* Corte para um Duque amarrado com uma bomba no colo dele e a Tânia desesperada tentando desarmar*

* A música muda de ritmo e voz do Stiff surge ao fundo: até onde você iria para salvar aqueles que você ama? *

* close no rosto do Duque com o olho dele mudando de cor e outra grande explosão *

* A Vivi e a Lisa estão cercadas por vários Shields level 8 e 9*

* Voz do Stiff, até onde você iria para acabar com a guerra? *

* Mais cortes com Lúcifer queimando um aberrante/casulo *

* Corte para Ann virtual coordenando um ataque no Gate *

* Mais voz do Stiff: Para fazer a diferença nesse mundo *

* Corte pra cena do Miguel falando na ONU *

* A diferença para aqueles que são importantes *

* Corte para a Angela e o Leo se abrançando com ele no leito do hospital*

*a música diminui*

*a cena corta de volta para o stiff e Lucifer com Lúcifer falando*
Esse plano é arriscado, mas acho que pode dar certo.

*A cena abre e Dante aparece por um dos portais da Lucy*
Sim, vai dar certo. Vamos ter algumas baixas, mas aquela vadia vai sangrar.

*Stiff e o Dante encaram o recém chegado*
- O que foi? Vocês acharam que iriam deixar o Paladino e a Igreja de fora disso?

*a cena escurece*

* A cena corta para um close numa insígnia e vai afastando e vemos a Tasha com roupa militar, um puta decote e um lar de pistolas nos coldres laterais batendo palmas. E ela diz:*
Finalmente você voltou, verme. Acho que está na hora de começarmos

*a música volta a tocar em um volume alucinante*
*Corte para o Connor e o Stiff na neve, ambos em avatar e ofegantes se encarando.
Os dois berram  correm um contra o outro e as armas se chocam*

* Com o choque das armas fica tudo preto e aparece o logo "Era dos Divinos" com uma voz vindo de um radio: estamos sendo atacados. Estão nos destruindo e a parte mais absurda eh que parece que são duas garotas e um lobo gigante *

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Conhecendo Cheng

Todos sabem como eu realmente gosto de escrever sobre meus personagens. No caso, o texto é questão é um praquel (numa série de 3) que farei sobre o Stiff que jogo com o grande amigo tio Dih. 

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- Falta muito? - Aquela era a 5a vez que Duque perguntava em menos de meia hora.
- Já estamos quase chegando. - Também era a quinta vez que Stiff respondia a mesma coisa.
- Você sempre diz direto.
- E você pergunta o mesmo a todo instante. Sabe, se você acha que o caminho é longo, podemos dar meia volta e voltar pro nosso canto. Talvez, seu aniversário de 12 anos não seja tããão importante assim e você goste de usar essa prótese velha. - Aquilo era uma malinagem muito grande. Stiff sabia que o Duque estava extremamente ansioso e empolgado com a ideia.
- Você não seja louco de propor isso, Stiff – Ann falou ao fundo dos dois amigos. Ela vinha mais atrás de mãos dadas com Vivi. - Estamos caminhando há quase 2 horas em busca dessa feira, já tive o trabalho achar descobrir o evento, achar a hora e o lugar. Nem com reza braba, vamos voltar para casa sem um braço novo para o Duque. Mas bem – ela suspirou – podemos fazer uma pequena pausa para descansar. O que vocês acham?
- É, acho que o evento não vai sair do lugar, se sentarmos por uns 5 minutos. - Stiff estava concordando, mas, vendo o desânimo na cara do grande amigo, ele completou – Duque, o que você acha de ir um pouco na frente e ver se você consegue descobrir aonde que é mesmo essa feira.
- Pode deixar com o grande D aqui. Se a gente depender do senso de direçando do grande líder branco, vamos acabar parando na China. - E saiu ouvindo os protestos de Stiff que ele sabia muito bem para onde ia.
Ann e Stiff se sentaram numa marquise do lado da rua enquanto Vivi ficou brincando com uma fila de formigas que subiam pela parede. Ann puxou seu velho computador portátil e Stiff ficou olhando para a mais nova amiga e suas formigas. Quando Vivi se afastou um pouco mais, Stiff se virou para Ann e disse:
- Ela continua ainda quietona?
- Quem?
- O lado feminino do Duque que não é – Stiff mostrou a língua para indicar que estava brincando - Claro que estou falando da Vivi. Sabe, ela está com a gente há uns 2 meses, mas fica sempre quietona. Queria saber mais o que ela pensa.
- Ora, ora, quem houve você falando até parece acreditar que você é um grande líder – Agora foi a vez de Ann mostrar a língua indicando que era uma brincadeira. - Não se preocupe, o jeito dela é assim. Às vezes, ela chora enquanto dorme. Acho que ela já deve ter sofrido bastante. Dê tempo ao tempo, logo ela vai se abrir.
- É, talvez – Stiff respondeu olhando fixamente para a pequena amiga.
- Tem algo que te incomoda?
- É que... às vezes... Sabe...
- Você conseguiu começar três vezes e não dizer nada. Acho isso uma habilidade incrível.
Stiff respirou fundo e tentou colocar todos os seus pensamentos para fora.
- Às vezes eu me pergunto se ela gosta da gente e da nossa companhia. Sabe, a gente só bateu nuns caras que estavam incomodando ela e dizemos: Menina, venha. Ás vezes, acho que a gente não fez bem em chamar ela e que ela só não faz nada porque não sabe mesmo para onde ir.
- Acho que gostava mais dessa conversa quando você só começava as frases. - A garota responder.
Um humpf mal humorado foi o que ela recebeu.
- Stiff – a amiga começou no seu tom mais maternal e adulto – A Vivi gosta da nossa companhia e gosta da gente. Ela só é mais quieta. Você não precisa se preocupar tanto assim.
- Vocẽ acha mesmo?
- É claro.
O garoto sorriu. As brincadeiras e comentários sobre ele ser ele ser o líder eram apenas uma forma descontraída de mostrar a posição que ele acabou ocupando no trio (agora quarteto).
- Bem, fico mais tranquilo em ouvir isso. Mas onde será que o Duque está? Já faz uns 10 minutos que ele...
- ACHEI. CARALHO. É ENORME.
A voz e os berros do amigo chegaram muito antes dele.
- CARALHO, A FEIRA É ENORME.
- Duque, manere os modos. Lembre-se que você está na presença de duas damas.
O Duque parou, colocou a mão não mecânica em cima dos olhos e retrucou.
- Sério? Cadê? Eu preciso me desculpar com essas duas damas.
Um chute na canela foi a resposta que ele recebeu.
- Ai. Isso dói.
- Pessoal – Stiff resolveu intervir antes que aquilo virasse uma discussão sem fim. - Acho que podemos seguir. Duque, leve a gente.

O quarteto seguiu a caminhada. Duque levava a Vivi em cima dos ombros para que eles pudessem fazer uma velocidade maior. A criança não pesava quase nada para o alto e forte negro.

Depois de uns 15 minutos de caminhada, finalmente entraram no evento.
A feira de doação de próteses era um evento beneficiente organizado pela Força da Liberdade e Diplomacia. Uma orgnanização mais ou menos recente cujo principal foco era em fazer atos de caridade e apoio para os Homo Sapiens e Homo Divinos. A idéia do evento era doar e distribuir uma série de próteses apreendidas pelo governo em vários outros locais do mundo.
O evento era enorme. Ele ocupava todo um parque. Stiff calculou que o parque deveria medir uns 4 ou 5 km². Havia uma estrutura que parecia ser um grande cachote de lona branca e metal de uns 400m² com uns 3 ou 4m de altura. Ao redor havia várias pequenas tendas de circuo de uns 2,5 metros. Ao contrário da tenda centrarl, as tendas de circo eram amplamente coloridas.
Apesar disso, não haviam muitas pessoas nas tendas, ainda. A multidão de pessoas estava concentrada na frente de um grande palco colocado na margem oeste do parque.
Quando o grupo chegou perto do palco principal, eles ouviram os aplausos com uma pequena mulher de seus 35 anos subindo. Ela caminhava de forma confiante e com os ombros retos. Os cabelos já estavam mais claros do que escuros, mas ela parecia ter sido uma mulher bem bonita, mas parte da belza fora retirada pelas preocupações do dia-à-dia.
- Boa tarde, à todos. Como foi anunciado, eu sou a Doutora Ângela e estou representando a FLD nesse evento. Ao contrário do nosso mestre de cerimônias, não sou tão habilidosa com as palavras, mas desejo de transmitir a todos os desejos da FLD para o bem de todos e uma convivência harmoniosa entre sapiens, divinos e robóticos. Mas, qualquer coisa a mais do que isso é só enrolação, esse evento é uma festa de integração e confraternização, vamos nos divertir.
Pausas e gritos de vivas. Vinham de todos os lados enquanto a doutora Ângela deixava o palco seguida por dois homens: um japonês baixinho e com cara de sério que ficava olhando de um lado para o outro e um alemão grande e corpulento que parecia ter mais interesse na mesa de comida do que em todo o resto do evento.
Outro homem subiu ao palco. Ele era bem mais enérgico e confiante. Stiff calculou que ele deveria ser o mestre de cerimônias. Quando os ânimos se acalmaram, ele começou:
- Vocês ouviram a doutra. Hoje é um dia para festejar e comemorar. Apenas lembrando que os interessados em conseguir as próteses, deverão se dirigir à tenda principal para fazermos um pequeno cadastrado e alguns exames. Além dessa principal atração, teremos vários brinquedos e comida para aqueles que quiserem aproveitar com seus amigos e familiares. A feira de doação de próteses vai até às 18:30. Depois disso, vamos ter um grande show com a banda os novííííííííííííssimos menudos. - Mais aplausos e gritos.
- Vocês ouviram o cara do palco – Stiff se virou e falou para os amigos. - O Duque vai para a tenda principal, enquanto todo mundo que não for grande e feio vai poder curtir a feira.
- Há, há, há. Se eu não estivesse tão animado com a idéia de ter um braço novo, eu iria te mostrar quem é o grande e feio. - Disse Duque enquanto se separava do grupo, mas ele não iria poder perder a última palavra. - Aproveite enquanto você ainda está inteiro, porque o seu Stiff-do não vai ser nada comparado com meu novo braço.
Com as meninas indo para um lado e o Duque indo para o outro, Stiff acabou ficando sozinho. Após pegar um sorvete, ele pode observar melhor a feira. Apesar de ser uma feira beneficiente com muitas tendas que lembravam pequenas tendas de circo, o jovem notou que havia bastante segurança. Ele conseguiu ver pelo menos uma dúzia de homens com calça e camisa preta com a palavra “Apoio” nas costas. Além disso, ele conseguiu ver pelo menos umas quatro ou cinco câmeras de segurança colocadas em pontos estratégicos para conseguir ver todo o terreno. Aquilo estava deixando ele incomodado, ele nunca se dera muito bem com autoridades, principalmente quando ela parecia agir como se estivesse no meio de alguma guerra.
Depois de quase uma hora nessa inquientação. Ele não conseguiu resistir as preocupações e foi falar com Ann. Talvez a moça conseguisse dar uma olhada nas câmeras e conseguisse ver se o grandão estava bem.
Ele encontrou elas brincando na piscina de bolhinhas. Vivi estava se divertindo bastante tentando construir um grande monte com bolhinhas e se ria toda quando o monte desmoronava.
Não foi difícil para Ann conseguir acessar o sistema de câmeras do local. Apesar de ser tão nova a menina já era uma boa hacker – claro que o fato de ela conseguir conversar e usar uma telepatia primitiva com os computadores ajudava muito ela nessa tarefa.
- Então, ele ainda está na fila para os exames. Ele tá bem perto da margem leste, um pouco mais para o meio. Sério, Stiff, tem muita gente aqui e o Duque parece estar meio sozinho. Acho que é uma boa a gente ficar com ele. Sabe, ele iria se sentir, OH MEU DEUS. O QUE É ISSO?
A exclamação da amiga veio quase que ao mesmo tempo que um clarão e um pouco antes do som alto de várias explosões.
BAM. BAM. BAM.
O caos foi quase que instantâneo. Muitas pessoas próximas, muitas pessoas sem treinamento militar, muita gente se esbarrando. Levou alguns segundos para que Stiff compreendesse o que estava acontecendo: alguém tinha atacado o evento e jogado uma série de explosivos no local.
E a Vivi começou a chorar.
Era difícil ser ouvido com todo esse barulho e movimento e o rapaz teve que berrar para que seu time conseguisse ouvir.
- ANN, PRECISAMOS SAIR DAQUI.
Ele puxou as duas meninas e os três foram correndo em direção da saída mais próxima.
Com algum trabalho, os três logo saíram.
Ao se encontrarem, no lado de fora, eles foram recebidos por algumas pessoas do grupo de apoio. Ann pegou a Vivi no colo e tentou fazer ela se acalmar enquanto Stiff foi procurar o Duque se perguntando se estava tudo bem com amigo. Duque não falava no assunto, mas ele e Ann sabiam que rapaz tinha perdido o braço num acidente que envolvia os seus poderes, fogos e explosões.
Depois de dar uma volta ao redor do terreno aos saltos longos, Stiff voltou para junto das amigas, Vivi já tinha se acalmado e estava chupando o dedo no colo da Ann.
- Nada?
- Nada. - A preocupação era nítida no rosto do rapaz. - Acho que ele está lá dentro. Preciso entrar.
- Stiff, não tem como olha. O tamanho das chamas, isso é coisa para você se machucar.
- Não tenho opção. O Duque não me deixaria na mão. Não vou pisar na bola com ele. - E vendo a cara de preocupação na amiga, ele completou – E nem com você. Vocês sempre me chamam, de líder, está na hora de eu agir como um. - Ele se virou e começou a saltar em direção da tenda principal.
Stiff resolvou seguir primeiro para o centro e depois ir procurando as salas para o leste. O fogo passou por um efeito interessante com a tenda. Por causa do calor, a lona derreteu e caiu. Isso deixou o local com um cheiro terrível e com muita fumaça. Contudo, como não havia mais teto no local, a fumaça estava se dissipando mais facilmente.
Stiff seguiu o caminho. Ao chegar, no centro do local, ele começou a pular. Ele sabia que não conseguia voar, apesar de chegar muuuuuito perto de ter umas quedas mais suaves. Porém, ele conseguia pular por quase 5 metros de altura e issofazia com que ele pudesse ver bem o que sobrara da tenda central do evento.
E foi isso que ele fez. A fumaça já estava irritando os olhos e a garganta, mas ele tinha que continuar. Cada pulo, cada berro, cada olhada era um pouco mais perto que Stiff chegava de poder resgar o amigo.
O esforço foi bem recompensando. Duque estava deitado, no lado de um corpo, ele estava sem a prótese esquerda e a mão direita estava esmaga por uma das barras que davam sustentação a tenda.
Ao encontrar o amigo, Stiff foi correndo a toda velocidade, saltando de ponto em ponto para chegar mais perto o quanto antes. Duque estava tão concentrdo na tarefa de tetar se livrar da barra que não viu quando o pequeno amigo apareceu.
Se aquela maldita barra não fosse tão pesada, ou se pelo menos ele estivesse em uma boa posição, ele iria conseguir sair. Ele sabia que tinha dado sorte pelos reflexos rápidos do doutor que se sacrificou, mas aquele diabo de barra era difícil de mexer. Porra, como aquilo doia. Mesmo estando meio anestesiado por causa dos exames, aquilo estava doendo pra caralho. Se, ao menos, ele estivesse com o braço mecânico, dava para levantar essa porcaria. Por que tinha que ser com ele? Sempre com ele? De novo fogos e explosões. Na última vez, ele perdera a casa, a família e um braço. O que ele iria perder para o fogo dessa vez?
- Duque? - O pequeno amigo chamou porque não queria assustar o grandão ou sair puxando alguma coisa. - Você precisa de ajuda?
Mesmo nas piores situações, Duque sempre tentava manter o bom humor. A Ann é toda séria e madura, a Vivi fica no mundinho quieto dela e o Stiff tá sempre muito ocupado tentando pensar na segurança e proteção de todos que sempre esquece que muitas vezes as pessoas precisam mais de um bom abraço ou uma boa piada do que de uma refeição decente em algum lugar abrigado. E é por isso que o grandão se virou para o pequeno amigo e não conseguiu deixar a oportunidade passar.
- Nop, Stiff, estou aqui super de boa. Talvez você possa ir em alguma sala e me preparar uns marshmallows. Eu faria isso, mas meu braço bom está em algum aqui perto e o ruim resolveu olhar esse espaço entre a barra e o chão mais de perto. Mas, se isso for muito trabalho, você pode só levantar um pouco essa barra que eu consigo fazer o resto.
Aliviado por ver que o amigo estava bem e de bom humor, Stiff se posicionou para levantar a barra. Era algo bem difícil por causa do peso. Se ele fosse um sapiens ele não iria conseguir levantar. Mas ele era um divino e tinha todo o apoio da sua telecinese para fazer mais força. Ele só precisava clarear a mente e deixar a energia fluir. Era só esquecer a fumaça, o calor, as narinas ardidas, os olhos lacrimejando e a garganta seca. Naquele momento só existiam 2 coisas que importavam: a barra e a energia. Ele só precisava sentir os dois e fazer eles interagirem.
Depois de alguns segundos de concentração, Stiff levantou a barra. Por baixo dela, a mão orgânica do Duque estava esmagada. Olhando daquela forma, Stiff ficou em dúvidas se existia algum osso não quebrado e como que o grandão ainda estava de pé.
- Não se preocupe com isso, me deram tanta coisa pra tomar que nem se eu quisesse, eu conseguiria sentir isso doendo. - Duque mentiu, mas vendo que o amigo ainda mantinha aquela cara de preocupação, ele viu que precisava usar uma outra tática: dar uma preocupação maior para o líder. - Então, assim, se você não se importar muito, o que você acha de me ajudar a dar no pé daqui. Se você não notou, essa era uma das barras de sustentação, da tenda-hospital e não sabemos por quanto tempo mais, isso vai ficar de pé.
E eles saíram. A caminhada era difícil porque tinha que fazer muitas voltas e aquele inferno parecia estar ficando cada vez mais quente.
Depois de vários instantes, finalmente acharam um caminho que dava para a rua. Era só continuar reto por mais uns 15 metros por dentro da tenda principal e contornar a quadra até onde as meninas estavam. O plano era arriscado, porque a tenda estava queimando bastante, mas era a melhor saída que eles tinham. Eles só precisavam ser rápidos.
Eles mal deram os primeiros passos quando tudo aconteceu. Pareceu acontecer ao mesmo tempo. Talvez tenha acontecido ao mesmo tempo.
O calor fez uma das barras de sustentação se expandir. Com a espansão e por estar preso ao chão, a força, que deveria ser distribuída, acabou sendo amentada e a barra cedeu. Nisso, parte da estrutura caiu e o peso das barras foi levando as outras que levaram outras e toda a tenda caiu em cima deles.
Num instante Stiff via fogo e calor. No outro, ele ouviu os barulhos, por fim, ele não viu mais nada e tudo ficou preto.




Ele primeiro sentiu a claridade antes de qualquer coisa. Então ouviu os sons, a respiração suave, alguns pássaros próximos e uma conversa bem leve ao fundo. Ele parecia estar deitado em um colchão duro, seu corpo estava dolorido, queimado e enfaixado mas era a cabeça o que incomodava, parecia que haviam encravado vários ganchos em diferentes locais e agora estavam puxando todos ao mesmo tempo.
A idéia de continuar com os olhos fechados e voltar a dormir até que a cabeça voltasse ao normal era tentadora, mas ele sentiu que havia outra pessoa ali no quarto. Seu instinto de sobrevivência falou mais alto e ele acabou se ajeitando na cama e abrindo os olhos.
O quarto parecia ter uns 3 metros quadrados, no centro ficava a maca de hospital onde ele estava deitado, na esquerda havia um janelão com as cortinas abertas e de onde vinha toda a claridade do local, no lado das macas havia um criado mudo com um balão de gás hélio colorido, na parede do lado havia um sofá mais comprido onde um acompanhante poderia deitar à noite em cima do sofá, havia um japonês com cara de sério que acabara de fechar seu exemplar de A Arte da Guerra e estava encarando o jovem na maca.
Stiff analisou bem o japonês: deveria ter uns 30 ou 35 anos, a postura era firme e o olhar determinado, estava vestindo uma calça jeans escura e uma camisa social cinza. Apesar disso, era possível notar que ele estava carregando algo que lembrava bastões curtos. Todo o seu corpo mostrava que além de estar sendo avaliado, ele também estava avaliando o rapaz na maca.
Depois de muitos segundos segundos se um silêncio quase opressor, Stiff não resistiu e teve que quebrar o silêncio:
- Os meus amigos. Eles estão bem?
Mais alguns segundos de silêncio.
- Sim. Eles estão. - A voz do japonês era grave e calma. - Por sinal. Eles estão de parabéns, se não fosse à menina mais velha ajudar nas buscas e a mais nova auxiliar os nossos médicos, iríamos ter umas 30 ou 40 baixas à mais.
- Posso ir vê-los?
- Assim que nós terminarmos aqui. Eles estão na sala do lado e ansiosos para falar com você.
Stiff não gostou daquela resposta. Ele não gostava da ideia de fazer o que quer que fosse sem saber que seu grupo estava bem, mas o tom do homem foi incisivo o suficiente para dizer que aquela era uma decisão que não iria mudar.
E o homem continuou: - Primeiramente, do que você se lembra?
Stiff, tentou forçar a memória, mas esse exercício se mostrou bem doloroso, porque alguém parecia puxar com mais força os ganchos da sua mente.
- Não me lembro de muita coisa. Me lembro de ter conseguido achar o Duque, que achamos uma saída, mas algo deu errado e toda a tenda caiu em cima da gente. Me lembro de ter pensado que eu iria morrer sem saber como era a neve e que se eu tivesse uma grande bola ao meu redor, eu poderia proteger a mim e ao Duque.
- Interessante. Bem, foi esse seu pensamento e a criatividade do seu amigo que salvou vocês. Mesmo sem saber, você conseguiu usar a sua telecinese para criar um campo de força ao redor de vocês dois. Ela foi tão forte que conseguiu segurar o peso sobre vocês enquanto o Duque fazia pequenas explosões bem acima de vocês para indicar a posição, como um sinalizador.
Stiff sorriu. Ele sabia qual era o poder do Duque e como o grande amigo se recusava a usar sua habilidade por medo de ferir alguém.
- Mas bem, agora posso ver meus amigos?
- Não acabamos ainda, garoto. - O homem suspirou – Como eu disse, vocês impressionaram muita gente nesse evento. Vimos que vocês são crianças de rua e gostaríamos de convidar vocês para trabalhar conosco para ajudarem a construir um mundo melhor para os divinos, os sapiens e os robôs.
Stiff ia levantar o dedo para fazer uma pergunta, mas o homem se levantou e foi mais rápido.
- Antes que você pergunte, já falamos com seus amigos e todos concordaram em seguir a decisão do líder. O que você decidir, eles vão aceitar. Então eu pergunto: você quer se juntar à Frente de Liberdatação dos Divinos?
Dessa vez foi Stiff quem suspirou. Aquele homem, aquele desconhecido estava dando a oportunidade que ele esteve buscando desde quando ele conheceu o falecido Tio Bob e viu que o mundo não precisa ser da forma confusa e errada do jeito que está. Mas Stiff era de natureza desconfiada e não iria se jogar tão imediatamente nessa tal de Frente.
- O que nós vamos ter que fazer nessa Frente de Libertação dos Divinos?
- Inicialmente, vocês vão receber treinamentos de acordo com as capacidades e habilidades de vocês. Depois, vão ser colocados em diferentes missões de acordo com o resultado dos treinamentos. Até isso acontecer, vocês permanecerão nessa base.
- Que tipo de missões são essas?
- Isso varia. O braço militar é responsável por 5 principais grupos de atividades: Ataque e execução, proteção, busca de informações, suporte e limpeza.
- Bem – concluiu Stiff – quando começamos?
- Nossa, tudo isso é vontade de trabalhar?
O jovem garoto encarou seu futuro mentor e, com um sorriso zombateiro, respondeu – Claro que não, isso é vontade de ver como estão meus amigos.
Nisso, o homem soltou uma gargalhada e se dirigiou à porta.

 - Realmente, você é um garato fora de série. Vou chamá-los. - E abriu a porta – À propósito, meu nome é Cheng. Tenente Cheng.  

terça-feira, 25 de agosto de 2015

BKP Christopher Stampler


Mais um background para a lista de RPGs. Apesar de ele ser cuzão, eu espero que vocês gostem dele xD
ps. Eu tava bem animado com house of cards quando pensei no BKG;
pps. eu sei que na série é Stamper e não Stampler. 
ppps. tenho que me lembrar de pegar a foto "dela" com o Ton;
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Sempre soube que era uma pessoa diferente. Especial. Não especial como essas pedagogias modernas que dizem que cada criança é especial e que não importa o quão incompentete ele seja. Afinal, ele é especial e todos amam ele pelo simples fato de ele ser do jeito que é.
Eu sabia que era especial pelo mundo que eu via. Um mundo lógico, cartesiano e matemático. A matemática e os números estavam em tudo. Eu era bom em entender os números e isso me tornou uma pessoa boa em enteder o mundo.
Aprendi a ler e escrever aos 3 anos. Aos 6 conheci a matemática. Aos 12 já entendia cálculo e aos 14 já fazia meus softwrares de análise numérica e brincava de ser hacker. Isso por si só era a para ser algo especial e eu poderia ter ido para uma universidade aos 15 anos...
...se eu não tivesse os pais que eu tenho. Minha família sempre foi ligada à política e ao partido republicano. Meu pai era conselheiro da cidade (até ficar doente e ser obrigado a se aposentar), minha mãe é uma exemplar dona de casa e meu irmão, Douglas, é chefe de gabinente de um vereador local.
Por serem republicanos e forçarem os métodos de ensinos tradicionais, nunca pude adiantar meus anos de estudos. Isse se tornou um problema depois da quarta série, pois ir para a aula era um sacrifício. Onde já se viu, perder meu precioso tempo “aprendendo” sobre sequências numéricas quando eu já estava começando a resolver minhas primeiras funções logarítimicas e estudando os princípios do cálculo.
Mas bem, não quero transformar essa história em um muro de lamentações. Avancemos para um momento mais legal de minha minha vida.
Meus pais não aceitaram muito bem quando disse que não ia fazer administração pública para me envolver com política e ameaçaram não pagar minha universidade. Tolos. Mal sabiam eles que eu já tinha o dinheiro para dar entrada no financiamento estudantil. Quando eles descobriram que suas ameaças eram totalmente em vão, desistiram.
Ingressei com mérito no MIT, na turma de ciência da computação de 86. No MIT, dividi o quarto com Paul Page. Aprendi muita coisa com ele: a diferença entre ser inteligente e ser esperto, outras formas de poder além do monetário e político, além de técnicas de conversação e convencimento. Como ele dizia: você não precisa ser o cara mais poderoso de uma sala, você só precisa fazer os outros acreditarem nisso.
Nos formamos em 1990 e logo em seguida iniciamos o mestrado. Eu fui para matemática aplicada à economia e ele seguiu na ciência da computação. Nosso plano era simples. Depois do mestrado viria o doutorado e abriríamos nossa empresa de consultoria financeira usando o melhor que os computadores pessoais pudessem oferecer.
Não seguimos muito o nosso plano, porque o MIT era um tanto quanto fraco na parte financeira. Então resolvermos juntar nossa coragem (e falta de bom senso dos nossos 23 anos), voltamos para Despero e abrimos Finantional and Computers a primeira empresa do estado de análise financeira com apoio de computadores.
Aconteceu de não termos ficado milionários primeiro mês, nem no primeiro semestre, ou no primeiro ano. Tínhamos um produto bom. Uma idéia revolucionária. Mas os custos operacionais eram elevados e gastávamos muito em publicidade. Moral da história: o negócio crescia, mas não na velocidade que precisávamos.
Mas, às vezes, a oportunidade aparecem de formas que não conseguimos imaginar. No nosso caso, a oportunidade apareceu numa oferta de parceria. Quase caímos da cadeira quando aquele homem de óculos de cabo pérola nos ofereceu uma parceria para o grupo que ele representava. A proposta era simples, nós iríamos liderar pequenos projetos na parte de P&D. Como pagamento, ganharíamos a apoio deles em divulgação além de poder usar a estrutura computacional deles.
Isso era incrível. Com uma única tacada, poderíamos resolver nossos dois principais problemas. Depois de algumas conversas, definimos que eu iria para a empresa e trabalharia lá enquanto Paul ficaria responsável por cuidar das coisas da FiComps.
Bom.
Na nova empresa foi quando eu comi o pão que o diabo amassou. Tive que me mudar mais para perto do centro para não perder tanto tempo com o ônibus, troquei o dia pela noite para acompanhar o fuso horário de Pequim; aprendi russo numa velocidade record; entre outras coisas.
O homem de óculos era meu superior aparecia semanalmente com novas instruções de coisas para pesquisar e resolver questões administrativas. Cada mês que passava, ele aumentava as atividades e o ritmo de trabalho. Era um inferno trabalhar com ele ou fazer qualquer projeto a longo prazo, mas não dei o braço à torcer. No final de quase 6 anos, eu tava trabalhando por 12 horas diárias, liderando 4 grupos de pesquisa e já tinha trocado totalmente o dia pela noite.
Trabalhava em ritmo alucinado, mas me sentia realmente bem por isso. Liderar e comandar pessoas em projetos de pesquisa era algo para o qual eu tinha nascido e eu era especialmente bom nisso.
Lá para outubro de 1996, recebi um chamado do homem de óculos para uma reunião num escritório no centro de Despero. Era a primeira vez que ele me convocava para ir em algum lugar – geralmente ele é que vinha até mim.
Chegando lá, ele me apresentou a uma mulher. Ela era uma das mulheres mais bonitas que eu já vi. Ela tinha um ar indiferente, olhos atentos e uma postura de quem poderia carregar o mundo nas costas se ela quisesse. Apesar disso, ela falava com uma voz aveludada e de um jeito doce. Ela poderia ter qualquer coisa entre 25 e 30 anos e vestia um terninho creme perfeitamente bem ajustado que ressaltava ainda mais o seu corpo.
Ela me indicou um assento e disse que, em última instância, ela era a mulher para quem eu trabalhava. Ela tinha se interessado pelas minhas habilidades desde quando eu e Paul abrimos a FiComps. E começou a conversar, fazendo perguntas sobre minha opinião sobre negócios, jogos de poder, modernização, Internet entre outras coisas. Depois de 45 minutos, fui dispensado com o convite para voltar no dia seguinte.
Essa rotina se seguiu até o último dia do ano. Eu passava 45 minutos por noite, durante todas as noites conversando com ela. Às vezes, ela trazia algum jogo de estratégia como Xadrez ou Go, às vezes ela perguntava sobre a minha família, relacionamentos e passado, mas quase sempre ela perguntava minhas opiniões sobre negócios e tomávamos vinho. Ela demonstrou um grande interesse pela minha tese de mestrado sobre padrões de topos e fundos no mercado e como poderíamos criar mecanismos para prever essas oscilações.
No último dia do ano, nosso local de encontro seria um local diferente. Ela me convidou para pasar a virada numa confraternização na casa dela. Imaginei que iria encontrar alguns figurões e teria a chance de fazer alguns acordos comerciais. Arrumei minha melhor combinação sport chic e fui para o endereço que ela me deu, às 9:00 PM como ela indicou.
Achei o horário meio cedo, mas nunca se sabe como são esses caras podres de rico. Eles costumam ter seus horários próprios.
Cheguei no local (cabe um parênteses para dizer que tive prender a respiração dentro do Taxi, porque ela morava numa mansão) e achei meio estranho o fato de não ter nenhum carro parado. Talvez a festa fosse em algum outro lugar.
Fui atendido por um mordomo que me indicou um escritório e disse que logo a patroa iria descer e me encontrar. Fiquei esperando e olhando os livros. Não sei quanto tempo fiquei lá esperando, mas estava começando a me questionar se tinha perdido o horário, quando senti uma mão tocar no meu ombro.
Me virei e lá estava ela. Linda, com a pele clara contrastando com o cabelo e aqueles olhos grandes olhando para mim. Além disso, ela estava vestindo algo que parecia ser uma camisola semi-transparente que mal escondiam seus mamilos eretos.
Não tive tempo para observar muito, porque ela já foi me beijando. O toque dela era, ao mesmo tempo, frio e cheio de calor. Em menos de meia hora, ela já estava deitada na mesa comigo dentro dela. Ela me arranhava com força e isso só me dava forças para ir mais e mais forte. E ficamos lá até quase a meia noite, alterando entre posições. Comigo sempre tentando ir mais forte, mais rápido e mais fundo. Me sentia um animal com toda a sua força e vigor que mordia, chupava e lambia ela e estava dando tudo o que eu tinha.
Foi, sem a menor sombra de dúvidas, a melhor foda da minha vida.
Gozamos juntos, em cima de um divã vermelho.
Caí exausto e sem forças. Ela se apoiou no meu peito e eu fiquei fazendo carinho nela. Depois de alguns instantes assim, ela me perguntou se eu queria experimentar algo mais apimentado e forte.
Na forma que eu estava, eu aceitaria praticamente qualquer coisa que ela pedisse. Ela foi me conduzido pela casa. Ela me levou a um porão. O local lá parecia ter abafamento de som e um cheiro meio mofado. No meio, havia uma daquelas camas de tortura antigas - tipo que prendia os pés e mãos da vítima com grilhões. No fundo havia um grande relógio daqueles modelos antigos e pesados.
Ela me bem trancou e me tranquilizou. Disse que era a primeira vez que fazia aquilo, que eu poderia sentir alguma dor, mas ela iria se esforçar ao máximo para ser o mais suave possível.
E assim ela começou a me beijar e acariciar. Ela subiu no meu colo e continuou me mordendo. Senti um misto de dor e prazer. Aos poucos tudo foi ficando tão gostoso, tão suave, tão sereno, tão sem dor, tão escuro. Quando o sino terminou as doze badaladas, eu estava morto.
Minhas memórias seguintes são dolorosas e assustadoras. Não vale a pena dizer como os primeiros momentos de um novo vampiro são agoniantes. Como é sofrida a luta entre a nova cria da noite a sua besta.
A vida como eu conhecia acabou e um universo de novas oportunidades se abriu para mim.
Depois disso, tive 45 dias seguidos de treinamento. Aprendi sobre os segredos da minha família, sobre como caçar, sobre minha função no clã, os dons de Caim e por aí vai. Também tive que tomar algumas preocauções, do tipo avisar para a minha família que eu acabei pegando férias inesperadas entre outras coisas menos relevantes.
Por fim, cá estou, minha última noite antes de eu voltar para meu serviço, com uma secretária carniçal, com um motorista particular, com uma nova equipe para implementar os modelos propostos na minha tese, em suma com uma nova vida (ou melhor, com uma não-vida).
Eu sempre soube que eu era uma pessoa especial. Hoje faço parte daqueles que estão no poder. Hoje, sou um dos reis da noite. Hoje sou parte de um grupo, de um clã, de uma famíla que lidera a mais poderosa organização de vampiros existentes. Hoje, eu sou um Ventrue.



Christopher Stampler

Douglas Stampler

Paul Page

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

BKP Stiff


21/01/2xxx – Relatório semanal. Esse é o primeiro relatório após a mudança. Acabamos de mudar para a casa nova. O Capitão Cheng ajudou com os detalhes da mudança, contrato e instalação inicial. As meninas ficaram com o quarto grande, eu e o Duque ficamos em quartos seperados.
Nossa localização é estratégica, estamos num bairro neutro em relação à nossa raça e ainda assim estamos a menos de uma simples caminhada até a sede regional de um grupo de preservação dos homo-sapiens. Além disso, existem boatos que alguns dos nossos estão sendo atacados durante à noite e houve alguns sumiços. 

Vamos poder observar bem isso.

Para a vizinhança, somos um grupo de universitários que se mudou e logo começará o ano escolar. Vamos manter nossos poderes escondidos e seguir com as investiguações.
Nota: o Duque solicitou, se possível, uma TV para ele poder acompanhar o campeonato de ownerball.

28/01/2xxx – Relatório semanal. Recebemos a TV há dois dias. Foi muito comemorado. Comecei a conhecer as pessoas da vizinhança, o disfarce de estudante sustentado pelos pais parece ter dado certo. As únicas preocupações que eles parecem ter conosco é se vamos fazer muito barulho e se vamos deixar a casa fedida.
Ann se tornou a responsável pela limpeza dos cômodos em comum, Duque e Vivi são os responsáveis pela nossa alimentação.
Estou enviando as contas para pagamento. As reuniões públicas do grupo de preservação dos homo-sapiens só começam em Abril. Fico aguardo de instruções sobre o que fazer.
Ann montará um esquema para monitorarmos as ruas ao redor da nossa quadra em busca de qualquer tipo de atividade suspeita.

04/02/2xxx - Relatório Semanal. Conforme o orientado, eu e Ann (na forma de um jovem casal curioso sobre a vida) nos inscrevemos para participar do Grupo de Preservação dos homo-sapiens da igreja. O atendente manteve por um bom tempo aquela conversa de que o grupo iria levar bastante tempo para voltar, mas mudou de ideia quando molhamos a mão dele. Ele falou existe uma outra reunião para o povo já iniciado e que elas nunca param. Ele disse que consegue colocar a gente lá dentro, mas isso terá um preço caro. Estou mandando as informações de pagamento em anexo.
Duque anda meio entediado. É nossa primeira missão em campo e ele sente falta ação.
Gostaria de pedir a autorização para, semanalmente, levar meu time para alguma região afastada para podermos treinar com espaço e usando plenamente meus poderes.

11/02/2xxx – Relatório semanal. No final do mês vamos entrar na reunião para o povo iniciado. Ontem começamos nosso treinamento no local que vocês indicaram. Dei uma surra tão forte em Duque que levará algum tempo até se recuperar completamente. Vivi está cuidando dele.
Também aproveitamos para decorar um pouco a casa. Vivi espalhou umas fotos antigas, da quando começamos a andar juntos pela casa e estamos pensando em adotar um cachorro ou algum mascote.

18/02/2xxx – Relatório semanal. Confesso que fui pego de surpresa com o pedido para contar a história do time antes de nos tormarnos um time. A história de nós 4 é realmente bem parecida. Mais ou menos aos 8 anos, descobrimos nossos poderes e não fomos muito bem aceitos na comunidade ou família. Acabos nos tornando párias das pessoas dos nossos próprios sangues.
Foram Duque e a Ann que me encontraram. Bem, pra ser sincero, nós nos esbarramos. Estava fugindo com as frutas que eu roubei numa feira e acabei batendo de frente com eles. Eles entenderam rapidamente o que estava rolando e me deram cobertura e desde então eu tenho estado com eles.
Vivi foi a última a entrar no nosso grupo, ela também é 6 anos mais nova do que a gente. 

Estávamos andando juntos há uns 3 anos e encontramos uma garotinha tentando defender um cachorro de um grupo de guris que estavam brincando de colocar uns rojões nele. 

Eles começaram a inticar com ela e então nós vimos o poder dela. Foi uma das coisas mais belas e sinistras que eu já vi. Ela poderia ter matados eles, mas ela não o fez porque “toda vida é importante e devemos nos esforçar ao máximo para prezervá-la”. Cara, isso vindo de uma menina meio pálida, com cara meio doente, que chega na altura do seu peito, mas tem poder para destruir uma cidade-estado inteira é algo MUITO assustador.

Bem, depois de uns 2 anos juntos, encontrei o Capitão Cheng num evento beneficiente aos Divinos. Ocorreu um ataque de algum grupo fanático e meu time ajudou a fazer com que não houvesse nenhma baixa. Chamamos bem a atenção dele que nos convidou para fazer parte da Frente Libertária dos Divinos. Passamos um bom tempo em treinamento e em missões pequenas e finalmente estamos em uma missão um pouco mais complexa.

25/02/2xxx – Relatório semanal. Não aconteceu nada de especial.

04/03/2xxx – Relatório semanal. Tivemos nossa primeira reunião no grupo dos iniciados. Eu e Ann fomos como um casal. Parece ser um grupo extremamente organizado, mas não violento.

11/03/2xxx - Relatório semanal. Não aconteceu nada de especial.

18/03/2xxx - Relatório semanal. Não aconteceu nada de especial.

25/03/2xxx - Relatório semanal. Continuamos indo nas reuniões. Já estamos bem enturmados com todos. O discurso parece estar se tornando mais inflado e violento. Aconselho observar com mais atenção isso.

01/04/2xxx – Relatório semanal. Houve uma briga entre um divino e um sapiens. Mesmo sem usar os poderes, o divino deu uma surra no sapiens. O Grupo de Preservação dos homo-sapiens está usando como o caso como meio para atacar a nossa espécie. Os discursos estão falando sobre tentar um levante. Logo algum idiota fará alguma burrada.

08/04/2xxx – Relatório semanal. Um casal foi morto aqui perto. Não temos informações se eram divinos ou não. Não conseguimos ter acesso aos dados de autópsia, mas os vizinhos comentam que eles pareciam ter marcas de socos, chutos e facadas. Ninguém assumiu a autoria dos ataques.

15/04/2xxx – Relatório semanal. O Grupo de Preservação dos homo-sapiens, está começando a se organizar. Eles pretendem fazer uma faxina étnica, passando de casa em casa e fazendo exame genético – a recusa em fazer o exame implicará na auto-declaração como divino. Os divinos serão convidados a mudarem de bairro. Semana que vem farão exames nos iniciados. Preciso de 4 exames falsos para não sermos descobertos. Aconselho uma rápida intervensão, nem que seja para atrasarmos eles. 

Ann

Duque

Stiff

Capitão Cheng e Stiff

Vivi
 

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Crônicas Vampirescas - A Origem Secreta de Takiamura

Muito aconteceu desde o dia que começamos a acompanhar a história do Jovem Kuwabara. Nos últimos episódios, descobrimos que ele também é uma personalidade de um outro vampiro, chamado Takiamura. 
De onde ele vem? Quem é ele? E como tudo realmente aconteceu?
Todas essas perguntas serão respondidas no programa de hoje.

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Meu caro Kuwabara,

Não tenho palavras para expressarmos o quanto estamos felizes por finalmente poder nos dirigir diretamente a você nessa carta. Sabemos que você ainda está se recuperando da sua última luta, mas existem coisas que precisam ser ditas antes que seja tarde demais. Uma tempestade está chegando e precisaremos da sua ajuda para que consigamos sair bem.
Já me adianto que essa carta tratará de assuntos delicados e você gostará do que você lerá, pois descobrirá que muito do que você acreditava ser verdade, muito do que você sentiu e muito do que você se lembra não existiu realmente. Se pudéssemos, te pouparíamos de toda essa situação, mas voltamos a dizer, uma tempestade está chegando. Para você realmente nos entender e entender tudo isso, vamos explicar algumas coisas: a) o que não é verdade sobre a sua vida e como sempre estivemos presentes, mesmo sem você notar; b) quem foi Michael Takiamura antes do abraço; c) quem foi Michael Takiamura depois do abraço; d) como viemos parar em Florianópolis, e; e) como você realmente nasceu.
Vamos aos fatos, não fomos abraçados aos 20 anos, mas sim aos 32; não somos o 7º filho de uma família só de mulheres, isso uma das lendas de como nascem os lobisomens; não somos o filho que treina artes marciais de uma família de vendedores de macarrão, isso é Kung-fu Panda; não tiramos nossa motivação da morte dos nossos pais na nossa frente, enquanto éramos crianças, esse é o Batman; não tivemos nosso grande chamado para a vida contra o crime depois de tentarmos enfrentar dois grandões indo incomodar uma garotinha, esse é o Blankman.
*
Sabemos que você já se questionou se havia alguém lá em cima olhando por você ou facilitando alguma coisa para o seu lado. Temos uma boa e uma má notícia: a má notícia é que não tem nada lá em cima esperando pela gente. A boa notícia é que havia alguém olhando por você. Muita gente, olhou e ainda olha por você. Queremos que você note alguns pontos realmente bem interessantes sobre a sua vida e algumas das “coincidências” e “lances de sorte da sua vida”.
A) quando você “foi abraçado”, mesmo com a “morte” de dois Brujahs, ninguém te questionou nada ou te perturbou sobre isso;
B) você conseguiu emprego e proteção do Takashi quase que instantaneamente, mesmo sendo um filho da lua estrangeiro;
C) você ganhou um par de espíritos protetores mesmo sendo um “neófito”;
D) quando você invadiu a casa do Nosferatu, você foi caminhando direto para o sub-solo, mesmo sem conhecer o local e lá, você correu para pegar algo que não tinha a menor relação com a missão (por sinal, aquilo ainda está escondido);
G) Alguém te enviou para entregar uma carta para o senhor La Sombra que quase te forçou a ir para uma missão e estragar diretamente os planos do Júlio;
F) No dia que você ganhou a Yuki-onna, apareceu um livro com a lenda da Donzela de Gelo e dos Irmãos da Tempestade;
G) Leon sabia exatamente onde e como te encontrar, além de saber que você era e da possibilidade de você ser um shifter;
H) Por fim, subitamente, a Jéssica achou que seria uma boa ideia ter você como um dos peões dela, mesmo com você tendo a fama de trazer problemas;
Viu? Essas são apenas algumas das situações onde influenciamos e mexemos alguns pauzinhos para o seu bem. Para o nosso bem. Isso, que ainda nem falamos dos apagões e dos sonhos que você teve. Na realidade, éramos nós que estávamos assumindo o controle.
Mas bem, agora que você já sabe o que não é verdade na nossa história, vamos contar o que É verdade.
*
Nasci no dia 13 de outubro de 1972. Era o primeiro filho que vingou de Hitoshi Takiamura e Teruko Takiamura, fui registrado com o nome de Michael Haru Takiamura. As fotos mostram que era bebê gordinho e saudável.
Na minha infância, passei bastante tempo brincando com as outras crianças, na Liberdade. Por causa da minha grande imaginação, acabava criando novos jogos e formas de brincar. Fui uma criança feliz e arteira.
Na minha adolescência acabei me isolando. Passava um bom tempo comigo mesmo. Seja estudando, ouvindo música ou lendo. Fazia as mesmas coisas que os outros jovens, mas tinha a companhia da minha imaginação. Fui me fechando e me tornando cada vez mais quieto.
Meus pais se preocupavam comigo, mas explicava para eles - no auge da minha sabedoria dos 14 anos - que era muito mais divertido ficar sozinho do que sair com aquele bando de Zé Ruela que não sabia a diferença entre curtir um anime e se tornar uma árvore de natal por causa daquele anime. Se quisesse fazer algum amigo, criaria um para mim. Também, foi nessa época que comecei a fazer aulas de Kendô com Otoosan e ajudar a Okaasan com Ikebana.
Foi nesse ritmo que segui minha vida por mais 7 anos. Como um cara normal, mas meio imaginativo que estava orgulhosamente na 4 fase de engenharia de mecatrônica na Universidade de São Paulo. Mas, como diria o poeta, a vida é uma caixinha de surpresas.
Descobrimos que aqueles problemas que Otoosan tinha para ir no banheiro eram consequência de um câncer intestinal. Mais do que isso, o câncer já estava em estado avançado e Otoosan faleceu em menos de 4 meses depois. Daí, em diante, minha vida começou a entrar em espiral descendente.
*
Tentei seguir com a graduação e me formar, mas tive que parar pois algum tempo depois Okaasan quem ficou doente. Sem seu esteio e seu parceiro, ela perdeu o rumo e parou de se cuidar. O laudo médico pode até dizer que ela morreu de uma pneumonia mal cuidada, mas sei que ela morreu de amor.
Não que sinta algum tipo de ressentimento pela morte dos meus genitores, mas o fato é que não estava preparado para o que viria em seguida e acabei comendo o pão que o diabo amassou. Tive que me virar em bicos trabalhando em lanchonetes, sendo homem sanduíche e vendendo quase tudo o que tinha.
O Mesmo assim, não desanimei. Achava que teria um futuro grande esperando por mim e passava as noites sonhando em como me tornaria uma pessoa foda e reconhecida.
De certa forma, creio que esses pensamentos e fantasias me ajudaram bastante. Quando não sabia a quem recorrer ou pedir conselho, imaginava Otoosan com suas palavras de sabedoria. Ou quando estava com medo, imaginava Okaasan me dando coragem – foram muitos momentos onde senti medo ou fiquei em dúvida de como agir.
*
No meu aniversário de 24 anos, minha vida começou a mudar. Comecei a ter a estranha sensação de que alguém me seguia e observava. Na época parecia algo surreal que pudesse ter algum tipo de stalker, mas a sensação não ia embora.
Logo depois do meu aniversário, achei um panfleto na caixa de correspondência, dizendo que a nipo-paulista tava procurando professores de japonês. Foi uma entrevista fácil. Aparentemente fui o único que se interessou pela vaga. Com desse emprego, tudo começou a fluir e logo em seguida consegui uma vaga para lecionar Kendô.
Comecei a me sentir mais confiante, mas aquela sensação de ser seguido não sumia.
Aos 26 anos, me mudei para uma pequena kitnet alugada perto da Augusta. Ficava meio contra-mão e era numa vizinhança meio tensa, mas era algo que consegui com o MEU trabalho e amava morar lá.
Aos 27 dei meu grande pulo em nível social e comprei uma lambreta vermelha. Cara... como amava aquela lambreta vermelha.
Aos 28 anos minha vida mudou novamente ao conhecer a mulher da minha vida.
Aos 32 ela me matou.
Mas uma coisa de cada vez, não precisamos por os carros na frente dos bois.
*
Pois bem, tudo começou alguns meses depois de comprar a lambreta vermelha. Durante a última aula noturna, notei que havia um aluno novo a mais na turma. Achei aquilo estranho porque sempre me avisam quando vai entrar alguém novo para me preparar e passar atividades mais leves e explicar um pouco sobre o caminho da espada. Esperei até o fim da aula e fui falar com meu novo aluno.
Quando ele tirou o ken, meu queixo foi ao chão. Por trás daquele capacete, havia uma bela garotinha com cabelos verdes e grandes olhos. Mais do que isso, era uma menina fofa e doce que ficou conversando comigo, de forma animada, até fechar a sede. Ofereci carona para ela, mas ela disse que estava de boa e que não precisava me preocupar.
Aquilo começou a fazer parte da minha rotina. Trabalhava 3 noites por semana na parte do Kendô e em todas as aulas ela aparecia e ficava conversando comigo até a sede fechar, indo embora sozinha.
B – que levou um bom tempo até descobrir que seu verdadeiro nome era Beatrice – era uma garota extramente interessante. Havia algum tipo de magnetismo nela que fazia sempre querer estar perto dela e me sentia à vontade para falar sobre qualquer coisa. Apesar de parecer tão jovem (ela disse ter 18 anos, mas tinha quase certeza que ela tinha uns 15), ela costumava ter opiniões bem maduras e um tanto quanto secas sobre filosofia e relacionamentos interpessoais.
E assim seguiu-se minha vida por mais um maravilhoso ano e meio. B-chan se tornou, mesmo com as mudanças de humor, minha melhor amiga e minha confidente.
*
Faltando 3 meses para completar 29, B-chan me veio com um convite estranho:
- Papai quer te conhecer e te convidou para ir lá em casa no fim da semana, logo após os treinos.
- Ahn?! Como assim? - Fiquei realmente desnorteado com aquele convite.
- Bem – Começou ela – Falo de você para ele há algum tempo. Pra ser sincera, falo bastante de você para ele. Finalmente, consegui despertar algum interesse nele para te conhecer.
- B-chan, você tem certeza que essa é uma boa ideias? Sabe, não sei se vou causar uma boa impressão. Quer dizer, sou apenas um mero professor de uma associação cultural.
- Não se preocupe, ele vai gostar de você, basta você ser você mesmo. Talvez você também conheça um amigo da família que vai se interessar bastante pelas suas habilidades com a espada.
- Céus. Gostaria mesmo de ter a sua confiança. Mas me diga, que tipo de pessoas são esses caras?
- Nhaaa, relaxe, você vai descobrir amanhã. Agora tenho que ir. Kissu, kissu.
E saiu saltitando sem dar tempo de responder ou pensar em algo. Às vezes ela fazia esse tipo de coisa e tinha essas mudanças súbitas. Quase parecendo ser outra pessoa.
A visita na casa de Leon foi experiência bem bizarras. Tive que falar sobre os mais diferentes assuntos, responder aleatórias e beber bastante vinho.
Também tive que enfrentar o amigo da família (Jeremias) numa partida “amistosa” de Kendô. Digo amistosa porque fiquei quase 30 minutos desviando e tentando aparar (com pouco sucesso) os golpes dele. Estranhamente, ele nem parecia ter se cansado. Me senti o pior dos espadachins e ainda tive que ouvir uma série de comentários sobre a minha respiração, postura e como parecia esquecer que um artista marcial deve encarar seu corpo como um instrumento para servir à arte de guerra.
Saí de lá às 4 da manhã meio inebriado com o ar, meio sem saber o que tinha acontecido e com a estranha sensação de ter sido testado em níveis que não compreendia muito bem.
No treino da semana seguinte, B-chan não apareceu sede. Foi a primeira vez que ela faltou desde o dia que eu a conheci.
No treino seguinte, ela também não apareceu.
Lá pela seguinda semana comecei a com medo de ter dado alguma bola fora infinitamente grande. Pensei em passar perto da casa dela, mas notei que também não me lembrava direito onde ela morava. Ora tinha certeza que a casa ficava numa travessa na Faria Lima, ora poderia jurar que a casa ficava em algum ponto perto da Paulista.
*
Com o sumiço dela, fui me isolando mais e mais. Minhas conversas comigo mesmo se intensificaram.
Outro ponto estranho era que ninguém parecia se lembrar dela, ou saber quem era Beatrice.
Como isso era possível? Será que minha amiguinha era apenas uma tentativa de um solteirão de quase 30 anos de se sentir menos sozinho? E se, tudo não passou de um sonho? Ela era real? O que é mesmo real? Estou enlouquecendo? Pode um louco questionar sua sanidade? Aquele zumbido no fundo da minha cabeça eram...
...vozes?
Andava distraído, sem fome, meio desanimado. Fiquei nesse estado de desolação por uns 9 meses. Perdi quase que 15 kilos e quase fui expulso da associação.
*
Mas, como uma pasta de dente chega ao seu fim, toda essa sensação ruim de não saber se ela existiu, de questionar minha sanidade, de ficar ouvindo aquelas vozes ao fundo acabou.
Num instante, estava lá.
No outro no estava.
Assim como o medo do escuro parece algo bobo durante o dia, todos os medos que senti da falta da minha B-chan passaram.
Mal sabia que minha vida estava prestes a dar um novo salto.
*
Mais ou menos uns 3 dias depois de tudo isso acontecer, quando estava prestes a dormir depois de uma aula excepcionalmente animada, a campainha toca.
Achei aquilo realmente estranho, afinal, não tinha amigos, quanto mais amigos que pudessem aparecer naquela hora da noite. Sorrateiramente, fui até a cozinha, peguei um facão e fui atender a porta.
Lá estava ela. Baixinha, com cabelos verdes e com uma expressão extremamente irritada. Cheguei a me questionar se estava feliz por vê-la. Para ser bem sincero, acho que estava mais é com medo – muito medo – dela.
Creio que em outras situações, iria abraçá-la e dizer o quanto senti sua falta. Uma voz interna me disse que isso era uma idéia ruim. Ela se adiantou e falou apenas duas frases.
- Papai quer vê-lo. Vamos?
Aquilo parecia mais como uma ordem do que um convite e não teria coragem para desobedecer qualquer coisa que ela me pedisse naquele momento.
Chegando lá, encontrei um Leon totalmente diferente. Ao invés daquele cara mais estilo paizão doce e meio rockeiro, o Leon que me esperava estava mais para grande homens de negócios, com um terno que parecia valer muito mais do que a minha casa e minha lambreta vermelha juntas.
O que B tinha de irritada e mal humorada, Leon completava com um leve interesse e fria cordialidade.
- Sinto muito pelo tratamento recebido, ela não tem passado muito bem nos últimos dias desde que perdeu um brinquedo. - Ele disse, ao me cumprimentar. Aquilo não me fazia o menor sentido e ele não parecia ter intenção de me explicar. Ao invés disso, ele seguiu: - Por favor, tome um assento e beba um gole de vinho, nosso tete-à-tete será breve, mas nem por isso devemos esquecer dos bons modos. - Comecei a beber e me questionar quando que essa noite iria acabar.
- O motivo pelo qual eu o convoquei aqui foi para lhe fazer uma proposta de emprego. Tenho ouvido tanto sobre você - ele se vira para ela - que pretendo lhe dar uma chance, mesmo me questionando sobre as suas capacidades para me servir.
- E qual é o serviço que você tem em mente, senhor Leon? - Quando que essa sessão de ofensas gratuitas iria acabar? E qual é o motivo para isso?
- Quero que você trabalhe como acompanhante, motorista, segurança e secretário particular para minha descendente. Você trabalhará das 19:00 às 6:00, cuidará da manutenção dos nossos carros e ficará por perto para fazer o que ela requisitar. Você não ouvirá nada, não falará nada e será invisível em todo o resto do tempo, à menos que te digam para fazer o contrário. O seu salário inicial será de R$5.500,00 mais todas as despesas de alimentação, transporte e roupas. Além disso, você receberá alguns treinamentos sobre como se portar, direção defensiva, luta com armas e quaisquer outras habilidades que acharmos que você precisa melhorar. O seu turno começa em uma semana, que acreditamos ser o tempo necessário para você se despedir daquele local onde você trabalha, conseguir roupas descentes e poder descansar. Alguma pergunta?
Ainda hoje, não temos certeza se perdemos algum ponto da conversa, mas não nos lembramos de ter dito que aceitaríamos o serviço mas estávamos com medo de dar uma de engraçadinho e perder essa grande bocada.
*
Entrei nos meus 30 anos, com um emprego muito bom. Ganhando muito dinheiro mas comendo o pão que o diabo amassou. Trabalhar para B era algo maravilhoso, mais ou menos na metade do tempo. Na outra metade, era uma amostra grátis do inferno.
Nessa época que comecei a notar algumas coisas estranhas tanto nela quanto no seu pai. Ambos eram extramente caprichosos e com graves mudanças de humor (bipolaridade?), eles nunca saíam durante o dia, iam com frequência em uma sala comercial na Paulista, pareciam ter longos diálogos falando sozinhos e tinham quase que um 6º sentido para saber o que estava pensando. Ambos pareciam ter uma queda para se envolver com garotos e garotas de programa, mas sem nenhuma preferência em especial. E tinham alguns pedidos realmente estranhos.
No top 5 dos pedidos mais sem noção de B, consigo listar:
* o dia que ela pediu para cobrir todos os espelhos da casa para a visita de um futuro associado;
* que ela não me deixava exterminar nenhum tipo de animal ou ser vivo que estivesse na casa ou nos arredores, por mais sujo ou nojento que pudesse ser;
* umas 4 ou 5 vezes que ela pediu para lamber o meu pescoço;
* ela mandou me alimentar com comidas ricas em ferro e tomar bastante sol;
* uma vez por semana, ia buscar e enviar itens no setor de doação de sangue no hospital;
Eles sempre tinham aquele clima de que estavam prestes a entrar numa guerra e precisavam se preparar para quando as batalhas começassem.
Hoje, vemos como fomos tolos. Ou inocentes que não enxergavam uma palma na frente dos narozes. Se tivesse o mesmo clima que eles, talvez não estivesse morto, agora.
Hoje, vemos que fomos caras de sorte. Se tivéssemos no mesmo clima que eles, talvez não estivéssemos onde estou agora.
É como naquela música: “Se soubesse tudo o que sei agora, teria feito tudo exatamente igual”.
Mas bem, vamos falar, agora, sobre como morri e como viemos parar onde nós estamos.
*
Já estava trabalhando há dois anos e gostava muito daquilo. Apesar disso, era nítido que a situação estava ficando cada vez mais tensa. Tanto B quanto Leon andavam muito ocupados, com reuniões e mais reuniões. Meu trabalho era muito o de motorista.
Numa fatídica noite, tudo deu errado. Era uma reunião num bairro mais isolado e com fábricas abandonadas. Estava esperando, calmamente, fumando meu cigarro e olhando para o horizonte, quando ela veio muito puta. Parecia uma criança mimada que não ganhou um brinquedo de natal, uma criança assustadora, mas ainda assim uma criança. Ela entrou batendo a porta e mandou voltar rápido pra casa, porque tudo tinha saído errado e Leon precisava ser informado o quanto antes.
Minhas memórias são confusas e tenho palavras para descrever como foram assustadores aqueles instantes de carro girando, carro batendo e sendo empurrado. Tudo isso há menos do que um kilômetro de casa. Meu último pensamento como um ser vivo foram algo do tipo, eles realmente estavam seguindo a gente.
*
Look around, around, around...

Acordamos num quarto estranhamente familiar, mas sem sabermos bem onde estávamos. O mundo parecia meio embaçado, meio desfocado. Como se as cores tivessem sido alteradas. Nosso paladar e olfato pareciam meio dopados e sentíamos dor em cada maldito osso do nosso corpo.
Onde estamos?
Eu não sei.
Sim, você sabe.
O que aconteceu?
Você não lembra?
Não, não lembro. Me ajude.
Ouvimos vozes discutindo. Duas pessoas berravam bem perto da gente. Quase conseguíamos ouvir os gritos na nossa cabeça.
Deixe sua mente flutuar.

- COM QUE DIREITO VOCÊ ABRAÇOU ELE?
- COM O DIREITO DE QUEM NÃO QUERIA QUE ELE MORRESSE.
- HAVIAM OUTROS JEITOS DE EVITAR A SUA MORTE.
- PARTE DO CRÂNIO DELE ESTAVA EXPOSTO, NÃO CONSEGUI CONTAR QUANTOS OSSOS QUEBRADOS E ELE TAVA TODO DESFIGURADO. MESMO SE ELE SOBREVIVESSE COM O SANGUE, TERIAM GRANDES CHANCES DE ELE VIRAR UM NÃO-FUNCIONAL. É ISSO QUE VOCÊ QUER? DESPERDIÇAR TODO O TEMPO INVESTIDO APENAS POR DETALHES COMO IMAGEM PÚBLICA?
*soc, tow, pow*
Insira aqui qualquer onomatopeia para tapa forte pra caralho. Aquele tapa parece que foi dado na nossa cara. Aquilo nos deixou com muita raiva. Sentimos, pela primeira vez a ira vermelha subindo pelo corpo. Ainda bem que estávamos presos.
- Sua garota de tola.- O tom de voz voltou ao timbre mais sombrio, frio, calmo e assustador. - Depois de todos esses anos comigo, achei que você já tinha aprendido alguma coisa relevante. A vida de outros, principalmente do rebanho, não vale tanto quanto me expôr. Mas bem, vá ver a sua cria que pensarei em como resolver as suas falhas.
Pausa e silêncio.
Deve ter demorado uns 50 minutos até B aparecer. Vê-la foi quase como ver um anjo. Na época, não saberíamos dizer o que estávamos sentindo, mas era algo bem próximo ao amor.
Não vamos entrar em detalhes sobre como foram nossos primeiros dias, pois você tem uma ideia de como foi. Passamos a primeira semana amarrado naquela cama enquanto conversávamos e provávamos que não iria fazer nenhum tipo de besteira como tentar voltar para a minha vida.
Depois de termos sido transformado, nossa rotina passou a seguir um ritmo constante. MUITO acelerado, mas constante. Éramos realojados a cada 4 meses, sempre morando em quartos escuros que tinham uma cama, livros, abajur e espaço para treinar.
Passamos 7 anos tendo contato apenas com B e Jeremias. Eles vinham visitar 3 ou 4 vezes na semana, sempre sozinhos e nos treinavam nas atividades mais variadas. Jeremias falava sobre a vida vampírica, sobre artes, exercícios, filosofia, etiqueta e cultura geral. B falava sobre a família, a loucura, ocultismo, a Rede e os dons vampíricos.
Em 3 ocasiões especiais, recebi a visita de Leon. Em cada visita, ganhei uma personalidade nova: Stephany Todd (baseada em B), Isaías Shepherd (baseado em Jeremias) e Ley Stampler (baseado em Leon). Não vou falar sobre eles, pois ainda me dói muito pensar naqueles que se foram. Além desse lance das personalidades, Leon versava sobre o nosso lado da família.
Não sabemos à partir de qual geração foi desenvolvido a linha do camaleão, mas sabemos que os membros do nosso ramo conseguem se ligar de uma forma diferente à Rede. Em diferentes situações e por diferentes motivos, conseguímos sintetizar um pedaço da Trama, buscar seu conhecimento e seu conteúdo criando uma nova entidade, com conhecimentos e personalidades próprios. O conhecimento e correta manipulação dessa habilidade permite criar vampiros extremamente e adaptáveis à qualquer tipo de situação.
No nosso caso, os laços são criados pela ligação de sangue. Cremos que, de alguma forma, quando nos enlaçamos à alguém, nosso cérebro se adapta ao sentimento criado pela pessoa que nos enlaçou. Esse processo de adaptação permite essa criação de um novo ser. Podemos dizer que somos os pais (junto com a pessoa que nos enlaçou) dessa nova personalidade.
O processo de liberação é um pouco mais dolorosos e depende de cada caso. Em alguns casos, pois precisamos praticamente matar essa personalidade, já em outros precisamos não darmos mais motivos para elas ficarem aqui. Além disso, quanto mais tempo, mais adaptado e maior seja a força de vontade da personalidade, mais difícil será destruí-la.
E a vida foi seguindo. Li, estudei, treinei a aprendi muito. Sabia que estava sendo preparado para algo, apesar de não ter ideia do que era.
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Na terceira visita de Leon, ele me disse que meu treinamento recluso estava chegando ao fim e que iria trocar a vida de Tremere aprendiz para uma vida no mundo lá fora.
Quando ele disse isso, achei que finalmente iria conviver com outros vampiros ou usar meus dons para poder curtir uma vida boa, mas estava errado. A noção de vida no mundo lá fora era que poderia viver num cubículo 2x3, numa vizinhança barra pesada da zona leste (não que existam vizinhanças boas na zona leste, mas aquela era especialmente ruim), com direito a sair 3 vezes por semana para me alimentar e trabalhando dentro de casa fazendo sacolas.
Ao me apresentar ao meu novo cafofo, B me explicou que se sobrevivesse dois anos seria promovido de um grupo semelhante ao Esquadrão Suicida (tive que pesquisar para entender que ela estava falando daquele time dos quadrinhos) e poderia não morrer imediatamente se falhasse em alguma missão.
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De alguma forma, consegui sobreviver. Se existe algum Deus, ele deve ser malkaviano. Cheguei muito perto de ser descoberto e quase me tornei mestre em ofuscação nesse período.
Nesses anos de serviço, aprendemos um pouco sobre onde tínhamos nos metido.
Ele tem algumas personalidades, a que mais fala comigo é a o Stanley. Creio que as personalidades dele tem alguma ligação direta com o nome delas. Afinal Stan é o apelido natural de Stanely e é terrivelmente parecido com Satan (apesar de ser bem acurado). A personalidade que se apresenta ao mundo é Leon e parece ter vindo de camaLEON como a nossa linha. Ainda cremos visto uma terceira personalidade que era mais marcial e voltada para o combate (foi essa a personalidade que te ensinou a despertar as outras).
Conhecemos três personalidades de B: Beatrice, Bianca e Bill. A princesa doce, a rainha louca e o príncipe guerreiro. Você conheceu apenas Bianca com a sua loucura, mudanças de humor e vício pela vitae e Bill com seu jeito prático de ver as coisas que é capaz de estacar a própria cria para ela aprender a ser um malkaviano de verdade.
Você não conheceu Beatrice e isso é algo que deveria te deixar triste. Beatrice é como um frescor de primavera no nosso mundo hostil. Ela é a garota por nos apaixonamos, que passou tanto tempo conversando conosco e discutindo sobre as mais diferentes coisas. Meu coração se alegra só de lembrar da forma como ela mexia a cabeça para tirar a franja de cima dos olhos ou a forma como ela me encarava mascando chiclete e conversava comigo.
Poderíamos preencher mais de dez cartas só para falar sobre ela, mas cremos que isso não seja tão necessário.
Leon é o criador de B e parece ter alguma influência na cidade. Ele se juntou a alguns outros membros/mortais de certa influência e criaram um grupo sem nome que eles chamam de a Organização.
Ela é uma organização paramilitar multidisciplinar/culto de guerra/tentativa de um grupo de seres poderosos de não morrer para os planos de outros seres poderosos. Nessa vibe meio culto meio grupo militar, ela não força ou evita guerras, apenas espera, se prepara e toma um lado.
Ela funciona em células espalhadas por todo o país (talvez por todo o mundo). Essas células são semi-independentes ou pelo menos as células daqui de São Paulo sejam assim.
O tempo que ficamos em São Paulo, lidamos com uma (ou algumas) célula(s) paulista(s).

Mas o que mais importa, e como importa, foi que sobrevivemos e fomos promovidos a um time menor da organização. Apesar de não ser muita coisa, já era o suficiente para não morrermos instantaneamente numa falha.
Em todo o meu tempo de vampiro, consegui descobri poucas coisas sobre a Organização. Pra ser sincero, você descobriu muito mais do que. Mas vamos ao que descobri:
  1. A Organização não possui um nome em especial;
  2. Ela é uma organização paramilitar multidisciplinar/culto de guerra/tentativa de um grupo de seres poderosos de não morrer para os planos de outros seres poderosos;
  3. Ela funciona em células espalhadas por todo o país (talvez por todo o mundo);
  4. Ela possui recursos;
  5. Ela não força ou evita guerras, ela apenas espera, se prepara e toma um lado;
  6. Existem pelo menos 3 níveis na organização: as pessoas que aparentemente mandam, as pessoas que não morrem imediatamente ao cometerem um erro e as pessoas que morrem ao cometerem um erro;
Enquanto era membro do Esquadrão, trabalhava sozinho. Recebia mensagens de um celular especial dizendo para onde deveria ir. Lá encontrava um pacote com equipamentos e informações da missão. Nunca me envolvi ou soube quem eram os outros membros ou no que realmente estava trabalhando.
Quando fui promovido, B me acompanhou em alguns trabalhos. Foi num desses trabalhos onde as coisas começaram a dar errado, de novo.
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O trabalho era relativamente simples. Perigoso, mas simples. Iríamos com um carniçal até perto de uma base anarquista para copiar alguns arquivos militares de um computador de uma sala em especial.
Não sei em que ponto nós falhamos, mas enquanto estávamos copiando os arquivos, a sala foi invadida. B conseguiu se ofuscar, mas não fui tão rápido. Não importa o quão vampírico você seja ou o quão bem treinado você esteja, uma bala de semi automática sempre dói. Céus como aquilo doeu. Meu último pensamento antes de cair foi que deveria ter ofuscado mais rápido.
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Acordei no meu quarto, recebendo uma transfusão de sangue, meu corpo me sentia um queijo suíço cheio de sangue. Meu cabelo já estava duro e seco, assim como minha roupa, assim como a coberta, assim como a cama, assim como todo o resto do maldito quarto.
B estava no telefone, ela falava num tom rápido enquanto andava pelo quarto. Já tínhamos aprendido a usar os auspícios para futricar nas ligações alheias e conseguir ouvir ela falando com Leon.
- Foi terrível – disse ela – acho que eles descobriram o segurança, ou tinham algum tipo de defesa no computador. Não sei. Só sei que que quase morremos.
- Ao menos, vocês conseguiram a informação?
- Bem, parcialmente, não tudo, mas não tenho...
- Ótimo. - Cortou ele – vocês acham que foram vistos ou identificados?
- Não tenho certeza. Talvez sim. Tomei minhas precauções com aqueles que consegui ver, mas existem as câmeras. E se eles pegaram Tobias, bem, provavelmente …
- Entendo. Então realmente, precisarei adiantar um dos planos. Como está o garoto?
- Ele está aqui deitado na cama, recebendo uma transfusão de vitae, fingindo que está dormindo para ouvir essa ligação.
- Estaque-o que depois passarei mais informações.
Ao ouvir isso, tentei me levantar e fugir, mas estava muito ferido e fui facilmente estacado pela B.
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Acordei uma semana depois. No mesmo quarto, com uma mala preparada na minha frente. Leon estava sentado com as pernas cruzadas olhando pra mim. Sua roupa bem alinhada, seu olhar sereno e sua cadeira bem estofada contrastava totalmente com o resto do quarto ainda ensanguentado. Havia uma mala de viagem na sua frente.
Uma vez disse ao fundo: a julgar pelo tom do sangue, ficamos 2 ou 3 dias apagados, a roupa e a postura indicam que ele passou por bastante trabalho e está numa posição de liderança e sutil afetamento, quase como um Ventrue...
- Finalmente você acordou, quero que você preste bem atenção e só faça perguntas quando for lhe dado à palavra, pois temos algum tempo mas ele precisa ser bem utilizado. - Me sentei para ouvir melhor as instruções. - Sua existência está ameaçada aqui e ter você aqui me colocará em uma possível situação de risco. Normalmente isso traria a sua morte, mas você já mostrou seu valor e lhe concederei o privilégio de poder viver. Falei com alguns associados [será que era a associação?] e consegui negociar bons termos. Preste bem atenção atenção no que eu expliquei para meu associado:
1º Minha cria abraçou por impulso uma pessoa que estava de olho há algum tempo;
2º Esse neófito trabalhou por algum tempo para mim e eu estava quase conseguindo trazer essa cria ao público sem causar nenhum tipo de mal-estar na cidade;
3º Ele e minha cria cometeram uma falha em um determinado trabalho e estão sob risco de vida;
4º Mandarei cada um para o exílio em um lugar diferente, com as memórias de meu último descendente apagadas para ele achar que é um neófito abandonado;
5º A cria trabalhará em troca de abrigo, segurança e moradia até ele conseguir se manter vivo;
6º Meu associado tem plenos direitos de fazer o que quiser desde que não leve a cria à morte final e corrobore com a história do neófito;
7º Minha assinatura nesse contrato se dará por você se ligando ao sangue com meu associado.
- Alguma pergunta?
Balancei negativa a cabeça.
- Ótimo, agora vamos aos pontos que VOCÊ precisa saber:
1º Não vou apagar a SUA memória.
2º Quando você se enlaçar, será um novo EU para você;
3º Modificarei a memória de seu NOVO eu;
4º Foi foi abraçado por acaso, quando acordou encontrou ESSA carta [agora você já sabe como conseguimos a nossa carta];
5º Você usará esse tempo em Florianópolis para TREINAR e se aperfeiçoar. Dentro de 10 ou 20 anos acontecerão eventos tumultuosos e quero ter bons soldados.
- Alguma pergunta?
Balancei novamente a cabeça.
- Ótimo. Agora vem a última parte do que precisamos fazer. Mas não serei quem fará isso. O próprio Leon será responsável por levar seus outros EUs ao alento. Change.
Foi a primeira vez que vimos ele mudar. Num simples piscar, os olhos dele mudaram daquele azul gélido para o castanho tão calmo, doce e tranquilo.
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Uma personalidade não some simplesmente. Não é o tipo de coisa que pode simplesmente morrer. Esse é um ponto importante e quero que você preste realmente atenção nisso. Cada personalidade É parte de você. É parte de nós. Somos todos um, mas o sangue que corre em nossas veias potencializa cada parte e cada traço, junta com o sangue que recebemos e acaba criando um novo ser.
Quando você olhar novamente para suas personas quero que você entenda que existe um pouco de cada um dos seus aliados dentro de você.
O processo de encontrar o alento consiste em compreender isso e se tornar uno com a sua persona e notar que não existe razão para que a sua mente esteja separada se podemos estar juntos (em outras palavras, você precisa não dar mais motivos para aquele pedaço da sua personalidade estar separado de você). Não é um processo fácil, mas é possível de fazer.
Depois de muito tempo, conseguimos levar a um alento temporário Stephany, Isaías e Ley. Em algum canto de nossa mente, existem três personas quase tão velha quanto nós e que logo despertarão.
Depois dessa experiência quase que religiosa, Stanley voltou ao controle, se levantou e nos disse.
- Seu voo sai em 3 horas, aproveite para tomar um banho, na sua bagagem tem instruções de onde ir. Você ficará na casa de uns conhecidos, sob a tutela de Jeremias. Mandei comprar algumas roupas e colocar algum dinheiro, isso deve te garantir o sustento por algum tempo. Lembre-se de me ligar quando você se enlaçar.
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O resto da história você deve imaginar, conhecemos TK, você nasceu (juro que essa frase nos pareceu menos gay em nossa mente) e cuidou de tudo como se você existisse desde o princípio. TK cumpriu muito bem a parte dele e nos garantiu por mais de um ano nossa existência e cuidado.
O motivo pelo qual você se sentir tão aéreo e ausente quanto B veio ou quando encontramos Leon foi porque nós assumimos e cuidamos de tudo. Assim como fomos nós quem tomamos a facada de B e conversamos tanto com Leon naquela plataforma mental.
Agora, cá estamos, com nossas outras personalidades prestes a encontrarem seu verdadeiro líder. Espero que você tenha lido essa mensagem até o fim e que você entenda que o que fizemos foi pela nossa sobrevivência.

Com carinho,

 Michael Takiamura.